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"Eu não sou o que aconteceu comigo, eu sou o que escolho me tornar."
-Carl Jung
Como nossa própria mente pode nos pregar peças e nos desviar do caminho que planejamos? Imagine que você decide adotar um estilo de vida mais saudável, estabelecendo metas claras, como começar a praticar exercícios regularmente e melhorar sua alimentação. No início, você está cheio de motivação, mas inexplicavelmente começa a adiar as idas à academia. Você promete a si mesmo que vai começar na segunda-feira, mas, quando o dia chega, uma sensação de cansaço ou desânimo aparece do nada, e você acaba desistindo. Esse exemplo ilustra como, muitas vezes, traçamos metas claras e detalhadas para atingi-las, mas acabamos nos deparando com comportamentos que nos desviam do percurso. Tomamos decisões aparentemente ilógicas, enfrentamos bloqueios mentais inesperados e, às vezes, até desenvolvemos sintomas físicos, como dores de cabeça ou fadiga, que nos impedem de continuar. Essa sensação de que algo está nos sabotando pode ser extremamente frustrante, deixando-nos perplexos sobre por que nunca conseguimos alcançar o que tanto desejamos. Mas por que isso acontece?
Por que às vezes destruímos nossos próprios planos sem uma razão aparente? Carl Jung, o renomado psiquiatra suíço, dedicou grande parte de seu trabalho a explorar o inconsciente
e chegou a conclusões fascinantes sobre esse fenômeno. Ele identificou uma parte da nossa psique que chamou de "sombra". Jung descreveu a sombra como um espaço psicológico dentro
do inconsciente onde armazenamos os aspectos indesejados de nossa personalidade. Nesse lugar escuro, onde a luz da consciência não penetra, escondemos aqueles traços de nós mesmos
que consideramos inaceitáveis. Isso pode ocorrer por várias razões: talvez nossos pais não aprovassem esses traços, talvez eles não se encaixem nos padrões da sociedade,
ou talvez a vida tenha nos ensinado que esses aspectos nos trazem sofrimento. Assim, reprimimos essas partes, empurrando-as para as profundezas da psique, como se não fizessem parte de quem somos.
No entanto, como Jung nos alerta, essa repressão não resolve o problema; pelo contrário, pode ter consequências desastrosas, pois esses aspectos reprimidos ganham vida própria e começam a operar na escuridão,
fora do nosso controle consciente. É aqui que a autossabotagem realmente começa: essas partes reprimidas da personalidade se rebelam contra nossa mente consciente a partir das profundezas da sombra. Acabamos
em guerra conosco mesmos, sem sequer saber quem ou o que estamos realmente combatendo. Felizmente, Jung nos oferece uma saída. Em vez de reprimir o que está na sombra, ele sugere que devemos integrar esses
aspectos à nossa personalidade consciente. E isso só pode ser feito ao trazer o inconsciente à tona, tornando consciente o que está escondido. Como Jung afirma em Tipos Psicológicos, "a consciência
sucumbe facilmente às influências inconscientes, que muitas vezes são mais verdadeiras e sábias do que nosso pensamento consciente".